OS AFOGAMENTOS
Repentinamente o banhista percebe que se afastou demais da praia. Inquieto e preocupado com a resistência necessária para a volta, começa a nadar vigorosamente. A correnteza se opõe a seus esforços. O medo logo se transforma em pânico e os esforços parecem mais impotentes.
Os movimentos passam a ser desordenados, as energias se consomem rapidamente. Entre uma onda e outra consegue vislumbrar a praia batida de sol e sente que nunca mais a alcançará.
Não é uma idéia de morte, é um pressentimento que lhe toma todo o ser.
Afunda, luta ainda mecanicamente, sente que engole água, mas consegue voltar, para logo em seguida submergir de novo.
A consciência abando-o aos poucos, debate-se debilmente.
De repente percebe que é ajudado, e quando consegue ver a cara feia do salva-vidas, acha que não existe anjo mais lindo no céu: está salvo do afogamento.
O aumento crescente da atração por esportes aquáticos vem chamando a atenção para os acidentes por afogamentos.
O QUE É AFOGAMENTO?
Afogamento é uma forma de asfixia ou anoxia, isto é, privação de oxigênio no sangue.
Ocorre por imersão prolongada num meio líquido, com enxarcamento dos alvéolos pulmonares por um líquido circunjacente.
O termo asfixia indica baixo nível de oxigênio no sangue, resultante de obstáculos à passagem do ar através das vias respiratórias ou dos pulmões, com ou sem inundação.
Há pessoas por exemplo, que morre afogada sem aspirar muita água para dentro dos pulmões.
É que o bloqueio nestes casos resulta de um espasmo da glote irritada pela presença do líquido.
Portanto a asfixia é mortal principalmente porque privadas de oxigênio, as células nervosas, inclusive as do cérebro, morrem ao cabo de alguns minutos, e assim gradualmente interrompem-se as funções vitais.
O afogamento pode ocorrer tanto com um bom nadador como com aquele sem nenhuma condição natatória.
TIPOS DE AFOGAMENTO
Considerado um dos processos capazes de conduzir à asfixia, o afogamento é classificado em:
• Quanto ao mecanismo: Primitivo ou Secundário
• Quanto à natureza do líquido: Ocorrido em água doce ou ocorrido em água salgada.
• Quanto à gravidade do quadro (aspecto da vítima):
o Grau I – afobado
o Grau II – enxarcamento alveolar
o Grau III - parada respiratória
o Grau IV – morte aparente
Afogamento Primitivo – é aquele em que ocorre a asfixia e, a seguir a síncope. Este tipo de afogamento acontece à medida em que a vítima luta coincidentemente para escapar. No processo os esforços podem consumir reservas de oxigênio e acelerar o desfecho mortal. Na síncope ocorre a queda súbita da pressão arterial ou o colapso respiratório, acompanhada de anemia cerebral e perda mais ou menos completa da consciência.
A vítima apresenta-se ciânica (azulada, lívida), congestionada, com espuma na boca e no nariz e, a respiração espaçada e profunda, antes da paralisia total.
Este é o tipo de afogamento mais comum, que acomete nadadores experimentados ou principiantes (que superestimam seus recursos).
Afogamento Secundário – é aquele em que ocorre a síncope cardíaca e a seguir a asfixia. É um processo abrupto, conseqüência de um desmaio, cãibra ou qualquer outro acidente súbito.
Muitas vezes o afogamento é precedido pelos sintomas do acidente que vai provocá-lo: náusea ligeira, angústia, dor de cabeça, peso anormal dos membros, descoordenação motora, ou dor característica das cãibras.
A congestão é uma causa temida de afogamentos secundários, geralmente decorre de uma concentração de sangue no aparelho digestivo, por causa de refeição recente. O esforço muscular da natação cria necessidades adicionais de irrigação sangüínea e oxigenação. Decorre de uma soma de necessidades que o volume de sangue não pode atender.
A deficiência de irrigação, embora não cause anormalidades maiores nos órgãos digestivos e nos músculos, poderá perturbar o funcionamento do cérebro, até causar-lhe um momentâneo desligamento ou desmaio.
No caso do afogamento complica-se o quadro, pois segue-se um asfixia que em círculo vicioso, torna ainda mais deficiente a irrigação e sobrevêm lesões graves ou mortais.
Mergulhos infelizes, quedas ou pancadas acidentais, poderão provocar desmaios, se os órgãos atingidos forem a cabeça, olhos, testículos, estômago (por repercussão no feixe de nervos que passa por trás dele, o plexo solar).
Mesmo choques alérgicos causados pelo contato com certos animais como a água viva, algas ou plancto (massa suspensa de microorganismos do mar), poderão provocar distúrbios inibidos.
No afogamento secundário, a vítima apresenta-se com aspecto lívido e pálido, não tendo espuma na boca e nem no nariz, e a respiração aparentemente ausente.
Neste grupo temos o chamado afogamento seco (grau I da classificação quanto à gravidade do quadro), que devido ao espasmo da glote, não aspira água para os alvéolos pulmonares.
Um caso específico de afogamento secundário é aquele causado pela síndrome térmico-diferencial, ou seja, sintomas ligados às bruscas alterações da temperatura do corpo humano, causando parada cardíaca na vítima, o que exigirá uma pronta prestação de socorro através de ressuscitação cardio-pulmonar.
Em suma, quem nada, encontra-se numa condição precária de sobrevivência, por depender de um trabalho muscular contínuo e coordenado que não pode ser interrompido sem riscos. Qualquer fator que interfira no esforço ou na coordenação (mesmo quem “bóia” precisa coordenar os músculos) suprimem a precária condição de sobrevivência do momento.
ÁGUA SALGADA E ÁGUA DOCE
Que diferença faz afogar-se em água salgada ou água doce?
Para quem se afoga nenhuma. Mas as complicações de um afogamento que não tenha conseqüências fatais são diferentes num e noutro caso e, portanto, variam as chances de sobrevivência.
No afogamento ocorrido em água salgada os alvéolos pulmonares são encharcados com um líquido hipertônico (causador do aumento de pressão num órgão do corpo humano, no caso o pulmão), o plasma do sangue passa para os alvéolos, a fim de equilibrar as pressões osmóticas e, resulta numa hemoconcentração (acúmulo de sangue) no pulmão.
Os alvéolos inundam-se mais depressa e mais completamente com o líquido proveniente do exterior e do interior do corpo.
O coração, debilitado pela insuficiência de oxigênio, encontra nessa mesma insuficiência umas necessidade maior de esforço, pois precisa impulsionar maior volume de sangue me tempo mais curto. Mas o bloqueio dos pulmões e a pressão arterial aumentam ainda mais o comprometimento dos capilares vizinhos dos alvéolos onde ocorre a concentração do plasma do sangue.
Tudo isso somado acaba por resultar num edema agudo dos pulmões, ou seja, acúmulo de água do organismo nos pulmões, o que agrava o quadro comum de afogamento.
No afogamento ocorrido em água doce a complicação será outra. A água passará dos alvéolos para o sangue a fim de igualar as concentrações, provocando uma hemotexia, ou seja, dissolução do sangue.
A pressão osmótica se exercerá para fora do alvéolo. A água passará pela membrana permeável dos alvéolos e invadirá os capilares.
Pessoas que morrem afogadas em água doce apresentam menor volume de água nos pulmões do que as pessoas que se afogam no mar.
Mas o caso é mais grave. Dos capilares a água passa para o resto do aparelho circulatório e aumenta seriamente o volume de sangue contido nos vasos com sobrecarga para o coração, que poderá sofrer até mesmo uma súbita parada, diante da impossibilidade de movimentar tanto líquido.
Além disso, a pressão osmótica fará também seus estragos nesse caso. Por ação dela, a água poderá passar pela membrana dos glóbulos vermelhos e inflá-los a ponto de começarem a estourar. Esse fenômeno de ruptura, a hemólise, apresenta um fator adicional de gravidade para o caso, pois são justamente os glóbulos vermelhos que transportam o oxigênio no sangue. A impossibilidade do sangue transportar oxigênio poderá ser mais grave do que a própria insuficiência.
Dentro do aspecto da gravidade do quadro de hemotexia, classifica-se o afogamento em quatro graus:
• Grau I - a glote se mantém em espasmo e a vítima não aspira água
• Grau II - (enxarcamento) não há parada respiratória, apesar do
enchimento total dos alvéolos.
• Grau III - (parada respiratória) cessam completamente os
Movimentos espontâneos dos músculos respiratórios.
• Grau IV - (morte aparente) o coração pára, porém ainda não há
lesão irrecuperável do sistema nervoso.
CONSEQÜÊNCIAS TARDIAS
As vítimas de afogamento, mesmo quando sobrevivem aos socorros, poderão sofrer conseqüências de gravidade variável.
São comuns, entre as conseqüências imediatas, prolongadas ou tardias,fortes dores musculares, insônia, dor de cabeça, febre, náuseas, vômotos,diarréias e distúrbios emocionais.
É comum que, logo após o salvamento a vítima seja acometida de convulsões intensas, confusão mental ou mesmo perda total da consciência.
O efeito da irrigação sangüinea deficiente no cérebro poderá ser o de lesões definitivas e irreversíveis, afetando o aparelho locomotor (paralisia) ou as faculdades mentais. Existem registros de casos graves em que a vítima é acometida por lesões nervosas que impede de recobrar a consciência, e causam o óbito até 20 ou 30 dias depois do afogamento.
A hemólise que ocorre nos afogamentos por água doce não provoca apenas as manifestações descritas. A hemoglobina liberada dos glóbulos vermelhos quando se rompe a membrana celular que os envolve, acumula-se no sangue em níveis tão elevados que chegam a entupir as vias renais. A súbita sobrecarga que acomete os rins impossibilita sua excreção normal e demais funções. Decorre daí a anúria, ou impossibilidade de urinar; uma característica do quadro de insuficiência renal aguda de graves conseqüências.
A uréia acumulada no sangue em altos níveis, bem como as substâncias tóxicas que os rins deixam de excretar, acabam por provocar distúrbios fatais, que poderão ocorrer tardiamente.
Outra conseqüência mortal da hemólise decorre da liberação de potássio no sangue. O potássio que normalmente se encontra encapsulado dentro das células sangüíneas, poderá provocar distúrbios musculares nas fibras cardíacas . Essa afecção não provoca efeitos fulminantes imediatos.O processo da hemólise leva algumas horas até chegar a atingir níveis mortais, e a ação do potássio,portanto poderá determinar a parada cardíaca muitas horas após o salvamento.
Por outro lado, a entrada de corpos estranhos na árvore respiratória (aspiração de vômito, detritos do mar, algas marinhas, areia, etc...) facilita o aparecimento de infecções como a pneumonia encontrada na maioria dos afogados.
Apesar da gravidade do afogamento, a maioria dos acidentes são recuperáveis, se atendidos a tempo e com eficiência.
segunda-feira, 1 de março de 2010
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